sábado, 5 de junho de 2010

Espelho de mim, Espelho da minha alma…

 

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Já não sei em que espelho

Ficou perdida a minha face

Olho para mim 

E já não me reconheço

Eu não tinha este rosto

Assim calmo e triste

Nem estes olhos vazios

Nem amargura nos lábios

Eu não tinha estas mãos

Sem força

Tão tremulas e frias

Não tinha este coração

Que nem se mostra

Saudade de ser quem eu era

Que nem sei de onde me vem

Talvez de ti espelho !

Ou de ninguém…

E no silencio do meu ser

Agita-se uma sombra de cipreste

Estranha imagem de mim

Que no espelho de tristeza se veste

Veste-se sempre com a mesma serenidade

A mesma mágoa,

Profunda sem remédio

Que dá vontade de gritar

Ando a traz de mim,

Sem me largar !

Lembro-me o que fui antes

Lembro-me que fui Primavera

Que em muros velhos fez nascer Rosas

As minhas mãos outrora carinhosas

Pairavam como pombas…

Quem soubera

Porque tudo passou

E foi quimera

E porque os muros velhos

Já não dão Rosas!

E então,

Procuro quem eu era

Já não sei em que espelho

Ficou perdida a minha face

 

 

2 comentários:

Blackangel disse...

Em que espelho ficou perdida a tua face?
Isso, não sei!!!
Mas a beleza da tua alma? Essa não se perdeu com certeza.
Porque só alguém com uma beleza interior impar consegue escrever assim.
Mais um poema simplesmente belo.
Beijinhos

Vivian disse...

Retrato

"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que
nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa,
tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"

Cecília Meireles

gostei da continuação que destes
versejando com Cecília Meireles!

parabéns!

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