Já não sei em que espelho
Ficou perdida a minha face
Olho para mim
E já não me reconheço
Eu não tinha este rosto
Assim calmo e triste
Nem estes olhos vazios
Nem amargura nos lábios
Eu não tinha estas mãos
Sem força
Tão tremulas e frias
Não tinha este coração
Que nem se mostra
Saudade de ser quem eu era
Que nem sei de onde me vem
Talvez de ti espelho !
Ou de ninguém…
E no silencio do meu ser
Agita-se uma sombra de cipreste
Estranha imagem de mim
Que no espelho de tristeza se veste
Veste-se sempre com a mesma serenidade
A mesma mágoa,
Profunda sem remédio
Que dá vontade de gritar
Ando a traz de mim,
Sem me largar !
Lembro-me o que fui antes
Lembro-me que fui Primavera
Que em muros velhos fez nascer Rosas
As minhas mãos outrora carinhosas
Pairavam como pombas…
Quem soubera
Porque tudo passou
E foi quimera
E porque os muros velhos
Já não dão Rosas!
E então,
Procuro quem eu era
Já não sei em que espelho
Ficou perdida a minha face
2 comentários:
Em que espelho ficou perdida a tua face?
Isso, não sei!!!
Mas a beleza da tua alma? Essa não se perdeu com certeza.
Porque só alguém com uma beleza interior impar consegue escrever assim.
Mais um poema simplesmente belo.
Beijinhos
Retrato
"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que
nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa,
tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"
Cecília Meireles
gostei da continuação que destes
versejando com Cecília Meireles!
parabéns!
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