
Já não sei em que espelho
Ficou perdida a minha face
Olho para mim
E já não me reconheço
Eu não tinha este rosto
Assim calmo e triste
Nem estes olhos vazios
Nem amargura nos lábios
Eu não tinha estas mãos
Sem força
Tão tremulas e frias
Não tinha este coração
Que nem se mostra
Saudade de ser quem eu era
Que nem sei de onde me vem
Talvez de ti espelho !
Ou de ninguém…
E no silencio do meu ser
Agita-se uma sombra de cipreste
Estranha imagem de mim
Que no espelho de tristeza se veste
Veste-se sempre com a mesma serenidade
A mesma mágoa,
Profunda sem remédio
Que dá vontade de gritar
Ando a traz de mim,
Sem me largar !
Lembro-me o que fui antes
Lembro-me que fui Primavera
Que em muros velhos fez nascer Rosas
As minhas mãos outrora carinhosas
Pairavam como pombas…
Quem soubera
Porque tudo passou
E foi quimera
E porque os muros velhos
Já não dão Rosas!
E então,
Procuro quem eu era
Já não sei em que espelho
Ficou perdida a minha face
