Enquanto longe divagas
E através de um mar desconhecido esqueces as palavras
Enquanto vais à deriva das correntes
E fugitivo perseguido por inúmeras formas
A ti próprio te buscas devagar
Enquanto percorres os labirintos da viagem
E no país de treva e gelo interrogas o mudo rosto das sombras
Enquanto tacteias e duvidas e te espantas
E apenas como um fio te guia a tua saudade da vida
Enquanto navegas em oceanos azuis de rochas negras
E as vozes da casa te invocam e te seguem
Enquanto regressas como a ti mesmo ao mar
E sujo de algas emerges entorpecido e como drogado
Enquanto naufragas e te afundas e te esvais
E na praia que é teu leito como criança dormes
E devagar devagar a teu corpo regressas
Como jovem toiro espantado de se reconhecer
E como jovem toiro sacodes o teu cabelo sobre os olhos
E devagar recuperas tua mão teu gesto
E teu Amor das coisas sílaba por sílaba
( Poema de Sofia de Mello Breyner )
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